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Na minha opinião, personagens são a vitrine de uma estória. Assim como ir à uma lanchonete e a forma de ser atendido por determinado funcionário me faz categorizar o estabelecimento como bom ou ruim, acredito que personagens são uma das coisas que sustenta uma narrativa. É claro que não são apenas de personagens que um livro, filme ou série é feito, mas ter personagens fortes é um dos pilares que me torna ávido por uma estória.

Segue então a lista de personagens que eu me identifico, acompanhado do motivo pelo qual eu tanto as amo. Vocês perceberão que, em alguns casos, o livro se sobrepôs ao filme, vice-versa ou a minha identificação vem de um híbrido entre ambas as mídias.

10. Angela Abar, série Watchmen

(Adoro Cinema)

Esta série foi uma surpresa para o meu ano de 2020. Impulsionado pelas indicações ao Emmy deste ano, além da minha eterna admiração à atriz Regina King, fui conferir a série e, meu Deus!! Que mulher!! Logo em sua entrada, descobrimos que ela consegue conciliar inacreditavelmente bem o seu lado mãe com a sua identidade secreta como detetive em Tulsa, uma cidade do estado de Oklahoma, nos Estados Unidos. Desde os primeiros segundos, sabemos que a ambientação é extremamente importante para o desenvolvimento da série, pois foi onde ocorreu o massacre de 1921, evento em que multidões brancas atacaram negros sem nenhuma razão senão o mero desprezo por pessoas de cor. Apropriando-se desse terrível acontecimento real, a série permite Angela Abar brilhar como uma detetive badass que se vê em um conflito grande ao morar e trabalhar em um lugar que ainda mantém fortes resquícios de seu passado racista.

09. Renata Klein, série Big Little Lies

(entretenimento.uol.com.br)

Como o romance homônimo de Liane Moriarty – que inspirou a série de TV – só possui um volume, não temos acesso à vida de Renata Klein da mesma maneira que somos presenteados por meio da série de TV. Por este motivo, priorizei a personagem que Laura Dern deu vida a partir de 2017.

Primeiro apresentada como a vilã da estória, na segunda temporada passamos a ver Renata Klein com outros olhos. Enxergamos que ela é apenas uma mulher que, além de dar o máximo de suas forças para a sua filha, também enfrenta problemas no seu casamento, o que acaba influenciando negativamente a sua carreira como uma empresária de sucesso.

Palmas para os roteiristas (que incluem a autora do romance), que conseguiram pintá-la como o ser humano que ela é. E palmas também para a atriz, que me fez amar demasiadamente a não convencional personagem. Confesso que cada surto(que são super necessários e compreensíveis), era uma gargalhada misturada de amor pela personagem.

08. Jane Chapman, romance Big Little Lies

(express.co.uk)

Jane é, na minha opinião, a grande protagonista do romance de Liane Moriarty. Ainda que a série de TV mostre muito bem sua estória, foi na leitura do romance que eu conheci de fato esta personagem tão forte.

Mãe solteira de um filho fruto de estupro, Jane Chapman ainda carrega as consequências da violência que sofreu para muito além de suas emoções. Ela vive mudando de lar para ver se consegue adaptar ela e o filho a uma vida nova.

Longe de mim romantizar a situação, mas a forma de como Jane lida com tudo isso praticamente sozinha me faz criar um laço de admiração e empatia muito intenso.

07. Madeline Mackenzie, série Big Little Lies

(boxpop.com.br)

Voltando à série de TV, acredito que Reese Witherspoon foi a responsável por eu criar uma identificação tão forte com esta personagem. Não que a estória que o livro traz ou o próprio roteiro da série não tenha influência nisto, mas o tom que a atriz utilizou para compor a personagem foi realmente o ponto alto que faz Madeline Mackenzie parecer tão real.

Como um canceriano, a intensidade de drama que Madeline tem é totalmente compatível com o meu lado sentimental. Apesar de eu não ter tantos surtos públicos (eu acho), a personagem me ensinou muito a não guardar sentimentos para mim e a expressá-los de forma genuína e sincera, doa a quem doer, já que ela mesma se sente machucada.

06. Peeta Mellark, saga Jogos Vorazes

(poressaspaginas.com)

Eu sempre torci para que o Peeta formasse um casal com a Katniss, caso ela fosse ficar com alguém. São nos momentos finais do primeiro livro e filme que me fizeram amá-lo tanto. Seu cavalheirismo, altruísmo e sua oratória sempre foram qualidades que me fizeram admirá-lo intensamente. E, como se não bastasse, ele é o exemplo perfeito para mim de pessoa que usa a sua inteligência para fazer o bem (e sua lista de ações benéficas feitas com ausência de egoísmo é enoooooorme).

Foi por isso que eu quase tive um troço na terceira parte da estória, quando soube ele estava sob as garras da Capital. Mas pior que isso foi saber das sequelas eternas que a guerra deixou nele. E tudo isso narrado de forma bastante real por Suzanne Collins.

05. Harry Potter, saga Harry Potter

(observatoriodegames.uol.com.br)

Muitos fãs, ao relerem a saga de J.K. Rowling, sentem ranço do bruxo mais famoso do mundo. Felizmente isso não aconteceu comigo.

A despeito de perder seus pais, viver com o que restou de sua família diabólica e acumular traumas extremamente profundos para uma única pessoa, Harry Potter se torna uma figura responsável, corajoso e intensamente firme em suas posições e crenças.

Com tanta coisa negativa em sua vida, Harry poderia ser uma pessoa insuportável, como muitos fãs apontam para a sua adolescência, mas esse título nós deixamos para o bebê chorão Draco Malfoy, que é insuportável não apenas em um livro ou em uma fase, mas do início ao fim da saga.

04. Tyrion Lannister, Crônicas de Gelo e Fogo

(pt.wikipedia.org)

Embora os roteiristas da série tentem apagar a todo custo os seus defeitos, Tyrion Lannister é um personagem que admiro tanto nos livros como na série. Mas tenho que confessar que foi no terceiro livro da saga que a minha compaixão pelo personagem atingiu o seu auge. Desprezado por todos por simplesmente não ter a beleza padrão pela qual os Lannisters são conhecidos e respeitados, Tyrion é uma das mentes mais brilhantes que eu já conheci.

No capítulo de seu casamento com Sansa, era para eu sentir empatia pela criança que estava se casando. No entanto, é de Tyrion que eu mais sinto compaixão naquela situação. Porém, este não é o único contexto no qual eu sinto tanta raiva pela injustiça que Tyrion sofre. Se não fosse por sua sagacidade e coragem em enfrentar uma batalha mesmo sendo anão, os Lannisters não sobrariam para contar história. Mais uma vez, tudo que ele recebeu foi decepção e injustiça, novamente por causa de sua aparência. Isso, porém, não foi suficiente para torná-lo um vilão que quer se vingar de tudo e todos, se é que essa categoria existe na saga de George R. R. Martin (existe sim e Cersei e seu grupo são os exemplos disso).

03. Hermione Granger, saga Harry Potter

(pinterest.com)

Eu sou aquele fã que acredita que o protagonista da saga não passaria do primeiro livro se não fosse pela rede de apoio que ele tem ao redor. Hermione Granger é a personagem que mais o ajuda nessa rede. Como esquecer a inteligência lógica que ela demonstrou no final do terceiro ato do primeiríssimo livro? Mesmo sob pressão, Granger consegue optar pela decisão mais apropriada do momento.

Acredito que criar uma bruxa cujos pais são trouxas tenha sido a decisão mais sábia de J.K. Rowling. Com uma personagem que não teve os privilégios de crescer em um mundo bruxo mas que está frequentemente numa biblioteca, Rowling nos diz que inteligência não é uma coisa inata. Dada a oportunidade, você precisa se esforçar para alcançar conhecimento e sabedoria, pois são coisas que não são transferidas, mas sim adquiridas com autonomia. E isso eu não preciso dizer que Hermione Granger tem de sobra: a despeito de não ser um Rony Wesley ou um Draco Malfoy cujos pais são bruxos e, portanto, desenvolveram suas habilidades mágicas desde berço, Hermione vai além, provando que sua condição não é uma desvantagem.

Há, além de seu esforço de se tornar inteligente, outras duas coisas que me fazem admirar tanto o seu caráter. O primeiro dessas coisas é a sua perseverança para lutar por aquilo que ela acredita. Como esquecer o seu ativismo no quarto livro para libertar elfos domésticos da escravidão, ainda que eles não “queiram”? Pode ser que ela não sabia que, como uma mera estudante, não conseguiria mudar a situação violenta que as criaturas se encontravam, mas o fato dela nunca desistir de fazer o que é certo me faz gerar uma esperança para que eu também possa lutar pelo óbvio.

Finalmente, a última característica que eu amo tanto em Hermione é a sua própria aparência. Assim como Tyrion Lannister, a escalação de Emma Watson para o papel não é nada coerente com o modo de como a aparência da personagem é descrita no livro. É claro que todos ficam chocados com a Hermione que aparece no baile de inverno, mas isso no livro tem um impacto muito maior, pois, acostumada a ser vista como “dentuça”, a Hermione que aparece no baile de inverno está deslumbrante. No filme, ela também está deslumbrante, mas, adivinhem como ela está no resto da saga cinematográfica? Também deslumbrante, de modo que um vestido no lugar de um uniforme nem faz tanta diferença assim para mim.

Voltando ao apelido carinhoso que Draco Malfoy(ranço) e até o Professor Snape(ranço maior ainda) dão na frente dela, Hermione demonstra uma calma, maturidade e sensatez que eu gostaria de ter sempre comigo. Ela não liga de ser chamada de dentuça, pois, sensata do jeito que é, o que é um par de dentes grandes quando se há uma inteligência maior ainda?

02. Katniss Everdeen, saga Jogos Vorazes

(standard.co.uk)

Katniss Everdeen. Como é que eu posso começar a explicar Katniss Everdeen?

Boa jogadora; Ótima amiga; Perfeita arqueira.

Mas não, não foi por essas qualidades que eu criei um vínculo muito forte para com Katniss. Creio que meu amor por ela começou do começo, quando ela se mostrou uma grande mãe para a sua irmã mais nova, a pessoa que ela mais amava naquele mundo. E, apesar da colheita ser o grande ato de demonstração para isso, acredito que a amostra da grande mulher que ela é se deu no início da estória mesmo, quando ela pensou em sua irmã e o quanto ela estava sofrendo por ser dia de colheita.

Claro, depois acompanhamos ela encarar uma missão impossível para salvar a irmã, mesmo com 90% de certeza que isso levaria a sua morte.

Mas o que mais me emociona em Katniss é a sua rebeldia e impulsividade para com a Capital. Há a cena da amora, há o diálogo perigoso com o Presidente Snow e há também a sua tentativa de acabar de uma vez por toda com os Jogos Vorazes, nem que para isso ela tenha que morrer.

A força de Katniss é impressionante. No filme, o corpo de Jennifer Lawrence nos faz acreditar que ela é bem saudável, mas no livro sabemos que ela é muito mais magra por não ter o que comer. E, quando tem, ela não pensa duas vezes em priorizar a saúde da irmã e mãe. Mesmo com todo o cenário contra ela, Katniss é uma militante extremamente forte que não deixa ser intimidada por ditadores cruéis. Ela faz o que pode para proteger ela e sua família, mas seus impulsos são sempre para um bem maior.

Ademais, eu não posso deixar de elogiar o trabalho de Suzanne Collins ao criar uma personagem tão real. Katniss é real porque é o exemplo perfeito das consequências que uma guerra traz. Os traumas de Everdeen, apesar de muito dolorosos, são extremamente necessários para nós leitores entendermos a gravidade de um reality show como os Jogos Vorazes ou as tantas guerras que ainda hoje o mundo enfrenta.

01. Daenerys Targaryen, Crônicas de Gelo e Fogo

(taofeminino.com.br)

E, finalmente, a controversa Daenerys Targaryen.

Obviamente não vou defender o imperdoável genocídio que ela cometeu contra inocentes. Embora eu tenha minhas dúvidas do quão inocente esse povo era (foi o mesmo que queria a cabeça de Ned Stark, o mocinho de toda a trama), eu reconheço que não tem como defender um ato cruel como causado por Daenerys. Todavia, deixem aqui nos comentários uma pessoa nessa série que não tenha feito tudo que estava ao seu alcance para ganhar poder. E por favor, desconsiderem Ned Stark e Jon Snow, pois um era o maior trouxa de Westeros e o outro foge totalmente do modelo cinza que os personagens de George R R Martin possuem. Como já dizia Cersei, quando se joga o jogo dos tronos, você morre ou você vive. Ou você vai querer me convencer que seria faria um uso mais sensato de um dragão depois de tudo que Daenerys passou? Se sim, ótimo. Já dá para renascer como um Targaryen.

Eu acredito que sim, os eventos da série serão parecidos com os do livro, mas acho que os modos para chegar a esses eventos serão um tanto diferente, a começar pela construção de personagem que desde o início o autor tem feito muito bem.

Outra coisa que me incomoda em Daenerys é sua linhagem com toda a baboseira de “sangue puro”, a mesma ideia dos Malfoys e seguidores de Lord Voldemort. Mas não posso julgá-la por ser da família que é. Posso julgá-la apenas pelo caráter que ela demonstra ter, e isso parece ser bastante diferente das ideias dos Targaryens antigos.

Carregando sozinha o nome da família, Daenerys apaga os absurdos pelos quais sua família era conhecida. Assim como Hermione, ela também luta para libertar escravos, tendo inclusive atrasado o seu objetivo principal.

Acho que assim como o Tyrion é subestimado por conta de sua aparência, Daenerys é constantemente subestimada pelos fãs e demais personagens da série unicamente por ser mulher. Parece que não basta você dar vida a dragões que até então estavam extintos, usar sua inteligência para trapacear comerciantes de escravos (como se ela fosse a única da série a usar tal artifício), e encarar de uma única vez os khals mais poderosos do mundo: se você não segura uma espada ou não possui um pênis entre as pernas, você é só uma mãe de dragões que precisa deles para sobreviver.

Ainda que tenha boas intenções, as ações de Daenerys são um tanto duvidosas, e é por isso que eu me identifico tanto com ela: George R. R. Martin é mestre em criar personagens “cinzas” – eles não são totalmente bons, assim como também não são extremamente ruins. São pessoas. Pessoas que acertam e erram, erram e acertam.

Como vocês puderam ver, minha lista é composta primordialmente por mulheres que são consideradas, por mim, fatais simplesmente por existirem em um mundo sistematicamente masculino. Gostaria de deixar registrado o meu amor pelas personagens Val de “Que Horas Ela Volta?” e June de “O Conto da Aia”.

Infelizmente essa lista não trouxe nenhum personagem de obra brasileira e por isso espero que minha próxima lista surpreenda vocês nesse quesito. Mas e vocês, se surpreenderam ou já sabia das personagens e suas posições em meu coração? Deixe-me saber, nos comentários, os seus personagens prediletos também!