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Para além de um romance policial, Crisálida traz temas sagazes como família, justiça e autodescobrimento.

(Banner: skoob.com.br)

Adquira o livro aqui.

Da mesma editora de “Esquecidos“, “Crisálida” é a primeira obra da médica, produtora de conteúdos e professora de Escrita Criativa Andressa Tabaczinski, tendo sido seu lançamento em 2018.

Na obra, conhecemos a investigadora Ana e sua equipe tentando desvendar o mistério envolto no assassinato de Amélia Moura, uma professora de Literatura filha de um importante político de Curitiba, Paraná. Entre dois narradores alternando não apenas suas vozes, mas também os seus tempos, somos presenteados ao vislumbrar Amélia se despontar como uma mulher consciente de seus desejos e suas possibilidades, antes de ter sua liberdade roubada.

Essa transformação não ficou restrita apenas na escrita em si, sendo um destaque muito belo e poético o trabalho visual empregado em toda a obra. Mostrando que a autora escolheu muito bem cada detalhe de sua arte, o livro traz, a cada novo capítulo, um estágio distinto de uma crisálida. O resultado exibe uma coesão e harmonização para com a narrativa.

Confesso que a primeira vez que li o romance gastei apenas três dias, uma vez que a narrativa serviria para o último exercício do curso Criação de Personagens, do Carreira Literária – um portal online para interação entre escritores de ficção. Como o tempo era curto, não sabia nem mesmo a sinopse da estória. Por esse motivo, o prólogo me assustou positivamente. Achei que estaria lidando com um terror, mas logo descobri que era apenas Andressa nos fisgando para uma trama mais profunda.

Durante ambas as leituras, eu senti que algumas frases e palavras eram desnecessárias para a trama. No interrogatório de Mônica, por exemplo, o narrador explica alguns atos de Ana e acrescenta alguns adjetivos para torná-la séria e ácida, quando, na verdade, por meio de seus atos, essa foi a exata imagem que eu projetei ao conhecê-la. Ler explicações chamou a minha atenção, como se nós leitores não pudéssemos chegar a essas conclusões sozinhos.

Embora muitas vezes estejam acompanhados de uma narração óbvia ou que não permite o(a) leitor(a) a desenvolver sua autonomia literária, os personagens principais são densos com suas camadas, conflitos e dilemas diversos, ainda que os investigadores compartilhem um tópico em comum para a construção desse drama: família.

Refletindo sobre a escolha de ambientação, me parece muito perspicaz a escolha da trama se passar em Curitiba, cidade conhecida como “pólo da justiça” após os casos da operação Lava Jato explodirem nacionalmente. Durante uma passagem no meio do livro, descobrimos que essa escolha de fato parece ter sido feita com extrema consciência, quando policiais discutem as consequências que uma morte provocada no trânsito pode ter para um filho de um ex-prefeito dirigindo alcoolizado.

A transformação da protagonista é feita de forma muito gradual e coerente para com a trama. O mesmo não pode ser dito de Ariel, que, apesar de ter sua função na trama, preenche o bingo de personagem cliché – suas referências à cultura pop e sua busca incessante pela verdade contribuem para torná-lo previsível e esquecível.

Assim como iniciei o post elogiando o trabalho visual da obra, também gostaria de encerrar a essência do livro: sua escrita. Com uma fluidez e clareza impecável, “Crisálida” é umas das narrativas mais limpas que eu já li durante toda a vida. O intervalo de um capítulo para outro funciona perfeitamente como uma balança, trazendo alívio para os que não são tão fãs de um romance policial (leia-se eu), e os que deram uma chance ao livro esperando que o gênero honrasse todas as características esperadas de um mistério. E a autora sabe utilizar muito bem o recurso de cliffhanger – há momentos na narrativa em que você sente a necessidade de saber o que acontece a seguir.

Desse modo, eu recomendo a obra ou para aqueles que gostam de se surpreender com um bom mistério, ou que gostam de levar situações e dilemas filosóficos para além de um bom livro de drama. A obra, juntamente com Ausentes, é a minha favorita no gênero de romance policial, e isso vai além do fato de Andressa ser uma das minhas mestras.

Conheçam então a autora e sua editora:

Andressa Tabaczinski: Instagram

Andressa Tabaczinski: Twitter

Editora Oito e Meio: Site

Editora Oito e Meio: Instagram