Autora estreante aposta em perdas dramáticas para gerar conexão de leitores com sua obra de ficção científica.
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Com grande parte do time envolvido na produção do livro “O Monstro Atrás da Porta”, que já foi analisado aqui, “Esquadrão X”, cuja autoria é da então estreante Vivian Villalba, é mais uma obra lançada em 2018 pela Editora PenDragon.
Assinado sob o gênero literário de ficção científica, a obra cria altas expectativas ao acertar em iniciar a trama com uma entrevista perspicaz que nos faz entender brevemente o universo criado por Villalba. Já neste primeiro capítulo, somos apresentados à Roxanne Bournier, uma jovem que decide se alistar no exército para excluir a possibilidade do alistamento de sua irmã mais velha asmática e a caçula muito pequena. Como parte do processo seletivo para descobrir em qual esquadrão Roxanne vai ser designada, a entrevista serve como um gancho perfeito de exposição para o universo de Villalba. A protagonista, também conhecida como Roxy, nos conta que cem anos se passaram após uma grande invasão de extraterrestres na Terra. Com o tempo após o ataque alienígena, seres humanos tentam sobreviver como podem, com novos governos, políticas e leis. Parte deste conjunto de consequências é o alistamento obrigatório no exército.
Roxanne é escalada para o Esquadrão X, o agrupamento militar de alto escalão. O primeiro ato segue mostrando uma organização da autora para com o planejamento e execução de um universo bem sistemático e estruturado, expondo para nós a rotina pesada criada para os integrantes dos esquadrões.
Por falar neste núcleo, os esquadrões me lembraram os distritos de Jogos Vorazes, com cada grupo com suas habilidades e expertises. E, o fato de Roxanne se alistar no lugar da irmã intensificou a minha conexão com o universo de Suzanne Collins.
O que começou a me incomodar foi notar que a maioria dos personagens possuem um nome em inglês – Roxanne, Cat, Lucy, Robb e Smith são alguns exemplos. Creio que o motivo para isto se dá por causa das consequências dos ataques de alienígenas na Terra – com o passar dos anos, novas leis e políticas, a impressão que eu tive foi de que não existiam mais países ou nações separadas geograficamente. Logo, uma cultura não prevaleceria sobre outra, em um universo unificado. Se foi essa a intenção da autora, considero a ideia boa, mas a execução não, pois, apenas com a lista supracitada de nomes, vemos que a influência da cultura norte-americana e inglesa continua alta, mesmo que inconscientemente. Quando teremos protagonistas brasileiros criados por autores brasileiros?
Outra coisa que me incomodou foi o estilo de pontuação da obra. Vejo algumas vírgulas que poderiam ser pontos ou ponto e vírgula. Ainda que a pontuação possa ser uma implicância subjetiva, a estrutura em si deixa a desejar com a inconsistência de paralelismo em alguns pontos: há sentenças que começam com o verbo no passado mas terminam no presente. Isto acabou desacelerando a fluidez do texto.
Há inconsistência também no recurso “show don’t tell” aplicado pela autora. Algumas vezes parecia haver muito show, cansando a leitura expositiva. Outras o tell prevalecia, não dando margem para o(a) leitor(a) gerar suas próprias interpretações sem influência direta do narrador. Dessa forma, a medida entre show e tell parecia sempre estar desequilibrada, de modo que nem a identidade visual dos vilões parece existir de forma marcante.
Outro desequilíbrio pode ser encontrado nos diálogos também, principalmente os feitos entre esquadrões. Eles podem ser considerados fofos e um tanto infantil para jovens que já estão sendo treinados para uma guerra mortal.
A personagem Major também é extremamente idealizada, com adjetivos e advérbios que muitas vezes não entendemos de onde vêm.
Por outro lado, o conflito interno da protagonista para encontrar sua força é de fato interessante de acompanhar – um dilema que faz nos identificarmos com Roxanne mesmo sem estarmos em um universo de ficção científica. Todos nós queremos encontrar a voz e força que farão nossas identidades serem únicas. Em uma trama de ficção científica, Roxanne parece passar por um amadurecimento singular.
Outro ponto positivo para a obra concerne a informação dada na chamada deste texto. Como supracitado, a autora aposta em perdas dramáticas para criar conexões de leitores com a estória. Embora muitas vezes simplórias, de forma geral, este recurso funciona muito bem, com um embalo gradual no meu coração a cada perda.
Por fim, parabenizo a equipe envolvida no visual do livro. Seguindo os passos de “O Monstro Atrás da Porta”, “Esquadrão X” serve para mostrar que uma das maiores qualidades da Editora PenDragon é o visual singular e belo ao qual os livros são apresentados para nós.
Recomendo para leitores que estão iniciando na literatura. As sentenças simples darão base para uma bagagem mais complexa no futuro.
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